sábado, 1 de outubro de 2011

sobre a morte

daí havia essa mulher deficiente que foi trancada no carro pela filha. pelo que entendi, a filha ia ali e já voltava. mas a mulher passou mal, com o calor e a falta de ar, então chamaram a polícia. e lembrei-me da época em que levava o gato grande para cima e para baixo, querendo acostumá-lo a fazer tudo comigo. um dia fui ao super, ia ser rápido, e deixei-o no carro. quando voltei, ele estava embaixo do banco, o carro ultraquente. senti tanta culpa. choro por anos por causa desse episódio.

o que me lembra a história que a amiga-holandesa contou sobre a morte de sua gata. se você é muito sensível, pare de ler aqui. tive de controlar-me para não chorar no café quando ela me contou. a gata teve algum mal do estômago, mas estava sendo medicada e tudo mais. porém, não comia de jeito nenhum. por um mês, a amiga passou o dia com ela no colo, enfiando goela abaixo a ração, pelota por pelota. a gata vomitava e ela enfiava outra. daí ela arrumou emprego. foi trabalhar e, no mesmo dia, quando voltou, a gata estava morta.

passo mal ao pensar em como vou reagir quando o gato grande morrer. é engraçado, já fazia acho que um ano que não pensava nisso. acho que esse é um dos meus grandes bichos papões. nunca perdi alguém de quem gostasse muito. só as namoradas, mas não é a mesma coisa que morrer. é um pouco mais leve. talvez, por isso, não entenda tanto o drama dos enterros e tudo mais.

mas o pensamento de o gato grande morrer me tira o sono. porque sempre acho que não sou boa o suficiente para ele. me arrependo de momentos específicos, como o ter levado ao show da Marisa Monte. fico imaginando o quanto a música deve ter sido alta demais para ele.

daí, hoje, desembolsei 70 réal em um livro que me prometeram explicar a teoria neoclássica em 5 páginas. estou louca para ler. adoro essas aulas de sábado de manhã. aliás, adoro ir às aulas, de modo geral. muito bom estar cercada de pessoas exatamente como você. acho que gera um misto de sensação de pertencimento com solidariedade. bom não ser a única pessoa infeliz do grupo - mas infeliz do tipo "estou tentando sair dessa". só não descobri ainda como.