a vida é muito louca. você tira um mês de férias, para tomar decisões a respeito da casa nova, pensar na mudança, na reforma, nas conversas com os arquitetos. e, claro, para recuperar-me da desilusão amorosa do ano. era o plano.
e o que acontece? você vai lá, se acaba, se joga nessas cidades loucas, conhece um monte de gente muito louca, destrói o fígado com destilados caros e todo tipo de cerveja orgânica de-não-sei-o-quê. pinta o cabelo de verde. compra um monte de roupas e acessórios para sentir-se maravilhosa.
para chegar lá, naquela que é uma de suas duas cidades favoritas no mundo, no topo mesmo, com alguns dos melhores amigos, para te falarem: sabia que ela está namorando? acho que você conhece, aquela colega de faculdade dela. eu fazendo cara de 1) eu com isso 2) whodafuck. só que, nisso, lembrei-me da tal colega da faculdade e passei mal a noite inteira - isso enquanto me perguntava por que mesmo estava incomodada com isso. achei logo que era inveja - ah, queria, agora, estar namorando alguém da faculdade. daí, você perde o voo e embarca em que dia? no dia em que terminaram. quatro anos atrás. q-u-a-t-r-o. depois de sete anos de relação - seguindo tua teoria de que você demora a metade do tempo do relacionamento para superar a história.
não poderia ter perdido aquele voo à tôa. consegui embarcar justo *no dia* fatídico, que marcou o início da desistência de todos os planos, amorosos, profissionais, em que voltou a ser exatamente como era antes, suicida, bêbada, boêmia, perdida.
isso como? perdendo o voo e tendo uma crise de choro. voltando para a casa dos amigos e, já que estava no clima mesmo, iria pensar em todos os assuntos que havia evitado no último mês - em outras palavras: hora ouvir Amy Winehouse - que era proibida neste lar de respeito e superficial - e pensar em tudo e chorar e beber quase a garrafa inteira daquele single malt que o amigo Ali-G ofereceu generosamente. precisava ser daquele jeito. ouvir aquelas músicas e surpreender-se por não estar chorando pela desilusão do ano. na verdade, não sabia nem pelo que se derretia tanto até chegar ao aeroporto e, pá, do nada, após um mês sem esbarrar em nenhum conhecido nos dois países por onde estive, e encontrar esse casal. e morrer, morrer de inveja. desejar morrer para nascer de novo e ser um deles. qualquer um dos dois.
e eis que, de repente, caiu a ficha, lembrei-me do que essas músicas significam para mim. os meses na Indonésia, em que elas não saíam do Ipod, dos DVDs, dos documentários, do fim da nossa relação, quando estávamos prestes a comprar os ingressos para o show. e agora que terminamos? vamos assim mesmo?
não fomos.
no dia em que a cantora morreu, estava em casa, com a outra, tendo o maior orgasmo da minha vida. olho o telefone e estava a mensagem dela contando a notícia.
agora, e agora? tenho esse apartamento, o coração partido, os gatos e essa vida que odeio. matando minha criatividade trabalhando na burocracia. e ainda tendo de lidar com todos esses excessos do último mês, com as decisões práticas que acabei não tomando, tendo de lidar com a volta de minha mãe na minha vida e com todas essas garrafas de destilados que trouxe, mas que prometi não abrir antes de seis meses.
hora tomar esse chá amargo, desintoxicar e voltar para a depressão, só que sendo saudável.
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