eu poderia ter uma vida simplesmente confortável. minha casinha, meu emprego estável, meus gatinhos amorosos, amigxs por perto, companhia para fazer programas legais, uma cozinha completa para fazer almoços e jantares (para mim e para convidadxs), um carro para levar aos lugares - Uber se quiser sair e beber -, saúde para ter disposição para as coisas. tudo conflui. tudo material, isto é.
mas foi só chegar nesse ponto - reconhecê-lo, na verdade -, que minha vida deu um nó. como alcançar o sonho de vida que havia projetado na adolescência para perceber que nada disso traz felicidade? claro que essas coisas são importantes para amparar os projetos que a gente possa seguir. saber que o salário cairá na conta todo mês ajuda muito, traz estabilidade. mas a constatação de que a vida material estava cuidada me permitiu olhar mais fundo para as outras questões. como ser feliz com tanta coisa errada a nossa volta, incluindo ações nossas mesmo. claro que ter chegado onde cheguei, além dos privilégios de família branca de classe média (que, obviamente, pesaram muito nessa balança), contou com algum esforço de concentração de energia e intenção. as coisas não apenas aconteceram por acaso. mas, agora, algo falta. e é isso que tenho buscado nesses últimos dois ou três anos.
as pessoas que conheci, as experiências que vivenciei, os livros que li, as emoções que senti acho que se aproximam - em quantidade e qualidade - do conhecimento formal (intelectual) que adquiri ao longo de décadas. sinto-me em um intensivão de autoconhecimento. de me redescobrir. de experimentar ser outras coisas. por um lado é muito libertador, por outro, muito doloroso. porque resolvi entrar em contato com quem sou por inteira, o que, né, traz à tona muitos aspectos horrendos da personalidade, que são, inclusive, muito difíceis de admitir. olhar para esse lado mau na tentativa de trabalhá-lo, transformá-lo, é tarefa árdua e muito dolorosa. mudar os padrões. não voltar para o que fui aos 20 e poucos anos, quando era revoltada com o mundo.
não sou mais revoltada. talvez seja até um pouco resignada. minha postura hoje é mais de observar, entender como as coisas funcionam. para, então, prospectar formas de agir para mudar esse mundo.
na maior parte do tempo, fico em silêncio (as pessoas que me conhecem em contextos sociais, normalmente, não têm essa ideia, mas, na rotina, no dia a dia, consigo passar um dia inteiro sem pronunciar nenhuma palavra, exceto aquelas da polidez - bom dia, obrigada, etc.), observo. observo para fora e para dentro. o que está acontecendo? por que estão agindo assim? como estou sentindo-me agora? e, ultimamente, tem sido esse turbilhão. me arrumo, me maquio, me penteio, vou trabalhar simpática e educada, mas, no meu silêncio, uma tempestade interna de emoções e sensações. o choro esporádico que aparece sem muita introdução. a necessidade de respirar fundo, pôr um mantra para ouvir, acalmar a mente e o coração e fazer o que precisa ser feito.
estou buscando essa força, esse poder. nessa guerra contra o ego, contra os apegos. derretendo tudo em lágrimas. respirando fundo a cada passo em falso. e são tantos.
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